segunda-feira, 11 de maio de 2009

NOTAS DE UM DEVOTO CAMINHANTE

Prashanto

"Conheci Osho (Rajneesh) em agosto de 1978, sem jamais ter ouvido falar dele. Fui a Puna apenas para cursar um "conselor training" na 'Rajneesh International Meditation University'. Depois descobri que não havia nenhuma 'universidade', mas já era tarde. No dia 12/10/78 recebi das mãos dele o meu mala e o nome. Essa história eu conto no prefácio do livro 'Meu Caminho: O Caminho das Nuvens Brancas' da Icone Editora. Da Índia, fui para o México onde fiquei até 1981.
Ao voltar ao Brasil, passei p or Brasília onde dei o meu primeiro grupo fora do Rio. Muitos 'velhos' saniasins do DF fizeram esse grupo. Em 1982 fui pela primeira vez a Rajneeshpuran, Oregon, USA. De lá voltei com autorização para abrir um centro de meditação, o Prashtan.Comprei então, junto com outro saniasin, uma casa no bairro de Santa Teresa, no Rio, bem em frente à que eu morava. Esse centro durou uns 3 anos.

No ano de 1984, começamos a editar o 'Rajneesh News', sob a direção do Satyaprem, mas, por imposição da 'gang' da Sheela, fomos obrigados a fechá-lo.

Entre 1982 e 1995, circulei por quase todas as capitais brasileiras, dando conferências, entrevistas em jornais , rádios e TVs. Passei vários anos coordenando grupos em 3 continentes: América do Sul (Brasil e Uruguai) e Central (Costa Rica), Europa (Espanha) e Israel, sempre voltando a Puna onde ficava um tempo descansando.

Desde meados de 2002, comecei a realizar os encontros das 'Escolas de Mistérios'
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Dia 20 de janeiro 1990.
Bem cedo. Puna, India. Estou de pé, perto da entrada do ashram. Comigo centenas de outros saniasins. Todos trazemos pétalas de rosa nas mãos para jogarmos sobre as cinzas do mestre que logo virão dentro de um jarro nas mãos de seu irmão.
Uma profunda tristeza, acompanhada de terrível frustração.

Pensava:”Cara! O mestre passou pelo planeta, você ficou quase sete anos perto dele, agora ele se foi e você nada! Perdeu a chance!”
Bem próximo a mim, quase em frente, uma gralha estava pousada num enorme “fícus”, bem lá em cima.

De repente, ela saiu voando e derrubou um galho seco que caiu no chão com grande estrépito...

Pá!
Tudo mudou!

Subitamente lembrei-me o que Osho dissera :”fora do corpo será mais fácil pra mim estar junto de cada um...”

O mestre zen havia usado o cacete ...

Depois deste dia fui me transformando de discípulo em devoto.

Explico:
O discípulo está conectado com o mestre pela mente. Ele admira os textos, ama a imagem dele, a presença física; há sempre uma razão para justificar seu discipulado. O devoto está no coração. Não precisa de razões para ter um mestre, não precisa ler seus livros, nem fotos, nem nada! O devoto sente o mestre em todo lugar, enviando sinais de que está pertinho...

O devoto vive no mistério, cercado de sinais. Uma folha cai, um pássaro voa, algo não previsto ocorre...Tudo faz parte desta infinita rede que é a presença misteriosa do mestre. Dos mestres, melhor dizendo pois todos são um só...

Champak pediu-me um depoimento sobre o meu dia a dia como saniasin.
Estou por aí fluindo em meio a alguns sinais que, para mim, podem ser brincadeiras do mestre, ou de minha mente, quem sabe? Isto não me importa. Estou curtindo adoidado!
Não pratico nenhuma técnica de meditação, quase não leio livros, nem os de Osho!
Vou à praia, leio o jornal, faço minha comida, meus chás, viajo pela internet, saio para as compras no supermercado, vejo a tv...Namoro!

Durmo, acordo, cago, mijo, todas essas coisas necessárias ao bom metabolismo corporal...
Lembro: no fim da década de 80, por razões que não interessam agora, Osho sugeriu que eu encontrasse a Kaveesha, então diretora da Escola de Mistérios no ashram. Ela levou-me ao seu quarto, apanhou um “caco” de cristal de quartzo (presente de Osho, disse orgulhosa) e passou-o várias vezes ao meu redor. No final disse: ”agora você pertence à Escola de Mistérios”

Naquele momento, e por alguns anos, eu não entendi o que tudo aquilo significava.
Mas seguramente “o mistério” ficou plantado dentro de mim.
A partir 1995 comecei a "ler" os sinais que a vida me enviava e, pouco a pouco, deixei de coordenar grupos de terapia. Entre 2000 e 2001 fiquei esperando algum sinal para iniciar a Escola de Mistérios que estava, havia muito, na minha agenda. Finalmente ele veio (depois eu conto como...) e agora ela existe em quatro cidades: Juiz de Fora, Rio, São Paulo e Vitória. Quando começamos ninguém sabia o que era ou o que seria! Mas como devoto eu sabia que tudo seria revelado nos momentos oportunos.

E, sem fazer nada, absolutamente nada, as coisas estão acontecendo!
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Notas de Um Devoto Caminhante (1-2007)

Osho deixou alguma mensagem aos posteros?

Lendo e ouvindo os seus inúmeros discursos é fácil descobrir varias.

Eu mesmo pesquei muitas através destes meus tempos.

Agora, após participar de inúmeras polemicas sobre este inescrutável Buda, cheguei a uma nova conclusão:

Não há mensagem nenhuma!

Porque há milhares!

O seu caminho é o das nuvens brancas como ele mesmo chamou. Sem caminho,destino...que desaparecem aqui,ressurgem acolá...

São sempre nuvens brancas (ou negras,) ,mas diferentes e cambiantes....

Há uma: ”I live you my dream”. (deixo-lhes meu sonho).todavia esta frase não foi dita para ser a ultima nem um preceito religioso.

Foram os autores do filme sobre sua morte que a ressaltaram, parecendo uma mensagem final.

Não é mensagem nem final!

Um sonho não pode ser transformado em meta, tarefa (!)...

Um sonho só vale se for para ser vivido individualmente!

Qual é o sonho de osho?

O SEU!

Ser feliz, celebrar cada instante, viver intensamente o aqui-agora!

E vivendo intensamente o momento não há tempo para cruzadas, cobranças sobre as mensagens de osho.

“who cares?” ((quem se importa?). ele dizia, às vezes, em resposta às criticas que lhe faziam.

“Acenda a vela pelos dois lados!”
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Relembrando...

Shalom!sobre este reliquia (a pedidos...)

É do tempo do chamado puna 1(antes de 1980).

Tudo era muito simples:chao de cimento,teto de zinco,colunas de troncos de arvores envoltos em um pano.até a roupa dele é apenas um camisolao,à la indu...

A pessoa que lhe entrega o texto é Laxmi, sua secretaria, que foi a sua primeira discipula (ela desconfiou que o acharya rajneesh tinha "algo" diferente...)

Assim que ele entra aparece uma figura com um gorro, no fundo, era seu "guarda-costas..." que mais tarde escreveu um livro contra osho.

A plateia, pode-se notar, é de gente ,em sua maioria,gente simples.muita gente egressa do fracassado movimento "hippie"-profissinais liberais, traficantes, putas, viciados, terapeutas etc.

Note-se a maneira como ele pronuncia as palavras, às vezes prolongando a ultima sílaba. para mim isto se devia a que ele "ouvia" o que ia falar, como ele mesmo declarou mais tarde.

Passei, neste periodo do puna 1, um ano (de 1978 a 1979). só muitos anos mais tarde me dei conta da intensidade do que vivi lá!
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Primeiras semanas em pune-1978o

Primeiro trabalho que fiz foi o "centering" baseado e técnicas de Gurdjieff.

Logo atestei o quanto minha atenção estava dispersa-uns exercícios estranhos tais como girar a mão esquerda numa direção e a direita noutra... um apos outro os exercícios deram-me uma triste visão da minha condição.

Não conseguia fazer nada!

Mais tarde lá fui eu pro "zazen”.

Três dias sentado num banquinho baixo, com os pés colocados debaixo, coluna ereta, olhando a parede, sem piscar! Logo a coluna começou a doer, as pernas ficaram dormentes etc. etc.

Sentado um tempo, outro caminhando. assim o dia todo. Comida frugal. Em silencio sem poder falar com ninguém a não ser com os coordenadores. compreendi logo que era um truque para parar a mente através da imobilização dos olhos (ultimo reduto corporal da mente).

Resolvi, então, imaginar que das minhas pupilas saiam dois fios paralelos que iam até o infinito. Isto tinha dois objetivos: relaxar os olhos (já que se olhando o infinito a pupila relaxa) e parar o incessante mover dos olhos.

foi duro!

Lagrimas corriam pela face e as incontornáveis dores no corpo. o retiro levaria três dias. No final do segundo dia tive uma experiência extraordinária!

A parede desapareceu!

Uma tela esbranquiçada ficou na minha frente, mantive-me firme olhando a tela vazia, de repente, vi projetada na tela minha boca que começou a se mover em movimentos agressivos, raivosos, porem em câmara lenta...

Como terapeuta reichiano que era logo compreendi que estava ocorrendo um estranho tipo de catarse. sem gritos, espasmos...

Minha boca estava liberando aquela raiva que todos têm e que , às vezes, sai em ímpetos de matar à dentadas, ou fazer fofocas etc. Não levou muito tempo, mas foi o suficiente para que compreendesse o poder daquela meditação na eliminação de emoções reprimidas, você apenas testemunhando em silencio.

no dia seguinte, excitado voltei pra continuar o experimento; desta vez iria tentar trabalhar as tensões nos olhos que, para mim, eram a causa de minha miopia desde garoto. Todavia, não tive tempo, pois logo o retiro acabou.

Acho que fui o único a ficar frustado com o termino dele!


shalom!


Somente muitos anos depois pude compreender o significado terapêutico dessa pequena (?) experiência; alias ocorreu o mesmo com quase todas as que tive lá entre 1978/1979.A tela em branco era o resultado da mente vazia, quieta. Na realidade a mente não “estava” quieta-ela “não estava”...

O mais surpreendente é que na ausência da mente, pude “ver” um bloqueio da minha couraça muscular sendo desmanchado naturalmente!Sem a mente pude me transformar na “testemunha” indiferente.

O zazen é considerado uma meditação “passiva”, como a vipassana. Na realidade não é uma meditação totalmente passiva. ela é “passiva” externamente,mas internamente não o é já que ativa as energias internas bloqueadas.

Qual a diferença?As meditações “ativas” mobilizam o corpo voluntariamente buscando desativar as forças bloqueadoras internas. Porem, mesmo nestas há um momento em que a passividade tem seu lugar. em quase todas as meditações “ativas” de osho há uma “etapa” de passividade,em geral com os corpos tentando relaxar deitados no chão.

No zazen e outras semelhantes, ataca-se diretamente aquilo que mantém bloqueada a energia-a mente.Sem a mente a energia recupera seu estado natural que é “mover-se”.

Sob este aspecto a Meditação é a terapia mais sofisticada que há.

Surgiu-me agora a pergunta: “por que, então, poucas pessoas têm essa experiência ao praticar as meditações”?
Primeiro, porque não conseguem relaxar totalmente. É claro que o esforço realizado nas meditações ativas tem sua origem na vontade, na mente!

Mesmo com o corpo cansado após muitas descargas energéticas, a mente continua ativa. Pode diminuir seu controle, mas no fundo, lá está ela... e enquanto houver uma mente “ativa” não há relaxamento.

Segundo, e principal, é necessário que se esteja dentro de um campo budico (ou seja, um campo vazio...) forte para que a memória do “vazio” do nosso próprio campo seja recuperada.

(Sheldrake chamou isto de “ressonancia mórfica”).

Em Pune havia o campo de Osho.

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Notas de um caminhante (08/02/07)

Aquela experiência no retiro de Zazan, logo no inicio de minha estada em Pune,em 1978, ficou adormecida por décadas em meu inconsciente. eu havia compreendido, na hora, o seu significado terapêutico, mas não tinha amadurecido para desenvolve-la no trabalho pratico como terapeuta. E durante anos a fio fui um terapeuta, cada vez menos reichiano e mais meditativo. W.Reich continua uma referencia, porem apenas como um tempero nesta complexa culinária que é a busca do autoconhecimento.

Em síntese, todo terapeuta honesto busca trazer o cliente para um estado de bem estar e auto-aceitaçao.

Quando cheguei a Pune, em 1978, minhas metas terapêuticas eram, segundo Reich, tornar o ego mais “poroso”, permeável, aos estímulos externos e internos. o equilíbrio entre estas duas forças representa a saúde.ou seja ,a terapia buscava um “ego saudável”.

Chegando a Pune cai do cavalo ao saber que a proposta de osho é acabar com o ego!o ego é a doença!Isto é inimaginável para a terapia ocidental!Quando voltei ao Brasil fui a um programa de TV, chamado “TV mulher”. se não me engano dirigido por Marilia Gabriela, mas no meu dia fui entrevistado por Cristiane Torloni que conhecia algo de psicanálise.

depois de explicar que a meditação buscava dissolver completamente o ego,ela,meio surpresa, perguntou ”e o que bota no lugar?”respondi:”nada.” até o Clodovil que estava ali perto assistindo ficou perplexo...Trata-se de retirar a mente de sua atual posição ditatorial em nossas vidas e coloca-la em segundo plano, quietinha na garagem quando não precisamos “viajar”... (aqui vale um pequeno esclarecimento: não se trata de “destruir a mente”, mas cala-la,silencia-la,parar o seu incessante fluxo de pensamentos até o instante em que se necessita dela).

Com Osho aprendi que a mente é necessária na vida social, mas o ego é completamente desnecessário. ambos formam uma parceria- mente –ego.

Na realidade o ego é apenas uma defesa do sistema vivo que nós somos. a mente é simplesmente, uma das múltiplas funções do cérebro, especifica do Homo Sapiens”. uma função que se aprende ao longo dos primeiros anos de nossa vida. ninguém nasce sabendo pensar, como também não nasce sabendo andar, falar. é uma habilidade inata que precisa ser desenvolvida por uns anos.Todavia a mente vai se formando junto com o ego.

logo ela toma o poder e cria-se uma coalizão:ambos se sustentam. O ego suste-se naquilo que Reich chamou de couraça muscular do caráter. está no corpo, nas entranhas,vísceras,fibras,nervos...

E a mente suste-se no seu incessante e incontrolável fluxo de pensamentos, na maioria dos casos repetitivos. As terapias corporais modernas procuram “amaciar” a couraça muscular usando varias estratégias: exercícios, massagens, buscando provocar descargas energéticas (emocionais) que estão aprisionadas no corpo.

Descobri recentemente que existem fibras musculares tão profundas que ninguém nem nenhum exercício pode atingir. mesmo porque quem vai comandar os exercícios senão a própria mente?Em qualquer movimento voluntário ela está no comando. e, claro!, ela não vai deixar que lhe tirem este comando. tirar o comando da mente pode significar loucura....

E quem nunca experimentou isso (a mente perdendo o controle, ficar doido...) jamais poderá levar alguém a este estado! Dentro dele (a) há um enorme cagaço de chegar mesmo perto... é comum ver “terapeutas” interrompendo o processo do cliente.

eu mesmo fiz isto muitas vezes.como se diz vulgarmente:”quem cú tem medo.”diante disso tudo é relativamente simples.... silenciar a mente é a única forma terapêutica real. É ai que a porca torce o rabo... . A meditação, terapia milenar que surgiu no oriente, é o caminho.

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